Clara de Assis: valores evangélicos e humanos
frei Fernando de
Araújo,OFMConv.
No documento da
proclamação do oitavo centenário do nascimento de Santa Clara de Assis, os
quatro Ministros Gerais (OFM, OFMConv., OFMCap., TOR), convocaram todos os
franciscanos e franciscanas a mergulharem profundamente nos valores
fundamentais que fez de Clara de Assis uma mulher fora do comum para sua época.
Os valores humanos e evangélicos que Clara encarnou em sem tempo, fazendo-se
discípula do Evangelho e humilde plantinha do bem-aventurado Francisco, foram
as grandes conquistas de Clara ao projeto de vida iniciado pelo pobrezinho de
Assis.
É importante destacar que Clara começou sua jornada espiritual de baixo
para cima, ou seja, tendo recebido a herança espiritual de Francisco se
consumiu totalmente na contemplação do amor de Deus pelos homens e mulheres e
que o amadurecimento humano era uma condição para uma verdadeira experiência de
Deus.
Ao contemplá-lo, de forma constante, percebeu a importância da vida, da
presença de cada irmão e irmã, como também de toda criação. E esses valores
estão sempre presentes na vida de Clara, pois ela, para progredir
constantemente no discipulado do Senhor, precisou ter esses ideais para uma
profunda contemplação do amor de Deus.
Mas, o maior valor que Clara cultivou foi deixar tudo por Jesus Cristo!
O abandono da casa paterna com todo o seu conforto, foi por Jesus Cristo.
Deixar tudo para abraçar o Cristo pobre, humilde e crucificado foi o único e
verdadeiro valor de sua vida. Por
isso, ela O toma com esposo, como razão da sua existência. Não mais os pobres, mas o pobre; não mais oração, mas o encontro com Ele na oração!
Por isso, na caminha espiritual de Clara é preciso perceber os
valores espirituais que ela vai adquirindo com o passar do tempo! Um valor importante que ela aprendeu com a convivência com Francisco foi
a experiência do Crucificado. Tendo feito a experiência da cruz, Clara percebeu
a pobreza como um valor indispensável na vida dela e na das demais
companheiras. A pobreza proposta por Clara é a mesma que Francisco: “porque
Jesus e sua Mãe foram pobres”. Ela
não consegue ver Jesus Cristo senão como um pobre. Para isso, podem-se recordar os diversos passos de sua vida, como ela os
vê no seu espelho de contemplação. Sua adesão maior foi na luta por não ter
nada de próprio, como aprendeu com Jesus e Francisco.
Outro ponto importante para essa mulher extraordinária era a contemplação que cultivava, pois sempre foi
uma “porta segura” para abraçar a causa do Crucificado, sempre na ótica de
Francisco de Assis. E a característica da contemplação de Clara é toda
visual, como a de Francisco: é pelos olhos que ela abre as portas para que as
imagens vivas do Senhor presente na natureza e nas pessoas arranquem de sua
interioridade aquela figura do Crucificado Pobre que sobe desde as suas raízes
mais profundas.
Mas, para chegar a esta visão, Clara percebeu a beleza da vocação, que
precisou ser cultivada a cada dia, com uma profunda intimidade com o Senhor. E
tudo isso, porque ela enxergava em toda a vida a santidade, bem como
toda existência humana, como uma resposta a vocação: dom constante de Deus que
chamou à vida e ao qual se tem que querer corresponder diariamente, sempre crescendo do humano para o divino, para poder chegar ao
princípio de tudo, que é Deus.
E a resposta à vocação recebida é o louvor ao Criador, que Clara aprende de Francisco e ensina a todos. Como a de Francisco,
a vida de Clara é uma explosão de louvor a Deus. Todos os seus escritos
transbordam dessa alegria de que vive descobrindo a presença do amor em tudo,
pois sabia que tudo que existia vinha das mãos bondosas do Criador.
Estes foram alguns dos valores importantes existentes na vida de Clara
de Assis, que a fizeram irradiar alegria e paz para todas suas companheiras e
para todos. Por isso, olhando esses exemplos da fundadora das Damas Pobres,
todos os homens e mulheres são convidados a cultivarem esses valores importantes
para vida, principalmente o valor da gratidão a Deus